Na segunda-feira, 4 de março, o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) divulgou o relatório “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, cujos apontamentos repercutiram em diversos meios de comunicação. Valendo-se da base de dados do estudo “What a Waste 2.0”, do Banco Mundial, o documento do WWF equivocadamente acusa o Brasil de ser o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo (11,3 milhões de toneladas) e indica que apenas 1,28% (145 mil toneladas) desse material é reciclado no País. A seguir, a ABIPLAST se propõe a aprofundar a questão e apresenta dados atualizados de produção e reciclagem de plásticos no Brasil.

ANÁLISE SISTÊMICA DA POLUIÇÃO PLÁSTICA

A indústria do plástico, aqui representada pela ABIPLAST, considera importante, de fato, haver uma agenda de discussão e mobilização em prol da solução da poluição plástica em nível global. Estamos de acordo que poder público, indústrias, empresas privadas, terceiro setor e consumidores precisam trabalhar juntos e com empenho na busca por uma resposta ao desafio de lidar com o descarte inadequado dos produtos plásticos.

A responsabilização de todos os atores, incluindo a cadeia produtiva do plástico, como propõe o documento do WWF, é necessária e muito bem-vinda. O setor não se exime do seu papel na construção de uma efetiva economia circular. No entanto, quaisquer propostas de resolução para o problema do lixo plástico devem ser debatidas de forma transparente, séria e criteriosa, com uma visão sistêmica da questão.

É preciso ampliar o debate e incluir na pauta a expansão do saneamento básico e da coleta seletiva, o consumo consciente, a promoção da reciclagem, a pesquisa por alternativas à reciclagem mecânica, a valorização do material reciclado, o fortalecimento de novos mercados e o incentivo à inovação em produtos e tecnologias.

O problema da poluição plástica é uma realidade e a discussão – quando franca, complexa e baseada em informações realistas – é muito salutar, facilitando o pensar e agir pragmaticamente na implementação de soluções concretas.

As empresas e indústrias envolvidas na produção, promoção e venda de produtos plásticos têm se mobilizado e se dedicado nesse sentido. Como uma das ações, em 2018, foi criada a REDE DE COOPERAÇÃO PARA O PLÁSTICO, reunindo todos os elos da cadeia em torno do desenvolvimento da economia circular no processo produtivo do setor. Estão envolvidos petroquímicas, transformadores de plástico, empresas de varejo, cooperativas, gestores de resíduos, recicladores e indústrias de bens de consumo.

Outra iniciativa de destaque protagonizada pela cadeia produtiva do plástico é o FÓRUM SETORIAL DOS PLÁSTICOS – POR UM MAR LIMPO, cujo objetivo é alavancar discussões sobre a questão dos resíduos nos mares, articular ações de enfrentamento ao problema e, dessa forma, configurar um movimento proativo do setor para a preservação do meio ambiente. São signatários do fórum associações de classe, empresas e sindicatos.

Atualmente, existem também compromissos de redução do uso dos plásticos pelas grandes marcas e pelos fabricantes de embalagens, assim como alternativas de reuso, remanufatura e reciclagem. O uso do material reciclado tem crescido nas embalagens e estudos ou aplicações de redesign têm sido feitos. Ainda assim, existe um grande desafio para o crescimento do mercado de reciclados, na medida em que existe um enorme problema a ser enfrentado com a logística reversa, em se tratando de um país com dimensões continentais e pouco atendimento de coleta seletiva.

A REDE é um grande passo no sentido de buscar alternativas e soluções para os desafios dessa cadeia. A ABIPLAST, como associação representante da indústria, preza pela transparência e mantém-se aberta ao diálogo e à construção de soluções perenes junto à sociedade para a conservação do meio ambiente, ao mesmo tempo em que trabalha para a manutenção do setor que é o quarto maior empregador do País e que segue trazendo incontáveis benefícios para a vida em sociedade.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DADOS DISPONIBILIZADOS PELO WWF

Após análise do relatório “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização” do WWF, a ABIPLAST considera que falta ao documento maior transparência em relação aos dados divulgados e ao rigor metodológico empregado. Foram identificadas simplificações feitas na metodologia, que teve como base os dados do Banco Mundial (estudo “What a Waste 2.0”), as quais tornam as conclusões de geração de lixo plástico e índice de reciclagem totalmente equivocadas.

Inicialmente, vale considerar que, na íntegra da publicação disponibilizada no site do WWF, não constam tabelas com dados individuais por país, mostrando o Brasil como quarto maior produtor de lixo plástico e com apenas 1,28% desse volume efetivamente reciclado – como é indicado nos releases de divulgação do estudo.

1. Sobre a imputação de que “o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo”, com 11,3 milhões de toneladas produzidas, consideramos essa informação superestimada.

De acordo com o PERFIL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE TRANSFORMADOS PLÁSTICOS, elaborado pela ABIPLAST a partir de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos dados mais atualizados de 2017, foi consumido no Brasil o volume de 6,5 milhões de toneladas de produtos transformados plásticos (incluindo-se as importações desses materiais). Desse total, 33% (2,16 milhões de toneladas) são plásticos de vida curta (até um ano), categoria na qual estão classificadas as embalagens plásticas e equiparáveis. Ou seja, o volume de plástico consumido e descartado, em um ano no Brasil, é 1/5 do total divulgado pelo relatório do WWF. A imputação também é questionável ao se levar em consideração que, segundo a Plastics Europe, a produção mundial de plástico é de 280 milhões de toneladas. Logo, o Brasil consome apenas 2,3% desse total.

2. Em relação ao dado de que “145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas”, consideramos essa informação subestimada.

Segundo estudo encomendado pela cadeia do plástico à Fundação Instituto de Administração (FIA) da FEA-USP, a reciclagem de plásticos no Brasil, em 2016, foi de 550,4 mil toneladas de materiais plásticos. Tal estudo é feito por meio de pesquisa primária com empresas recicladoras e os dados e conclusões estão disponíveis para serem auditados. Assim, se tomarmos o volume reciclado por ano e compararmos com o que efetivamente é consumido de embalagens e equiparáveis no Brasil, temos um índice de reciclagem de 25,8%.

Um índice de reciclagem próximo a 9% é observado se for considerado o consumo total de plásticos com o volume reciclado em um ano. Entretanto, esse tipo de comparação é conceitualmente incorreto, pois mais de 50% da produção geral de plástico referem-se a produtos concebidos para serem duráveis (como tubos para água, peças técnicas e automotivas).

CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA EMPREGADA PELO WWF

Efetivamente, são escassas as informações a respeito de coleta, tratamento e reciclagem em nível global; e o próprio relatório do WWF, em sua parte metodológica, reconhece a necessidade de simplificações, estimações e ajustes para que seja possível realizar análises de cenário por regiões do mundo.

No relatório, algumas inconsistências também foram verificadas. Como exemplo, a figura 8 abaixo (página 23), que se refere a uma “visão aprofundada de 1 quilo de resíduo plástico em diferentes países”, implica que a cada quilo de plástico gerado, 10% (0,1) são reciclados – uma informação discrepante da conclusão geral do relatório, de que apenas 1,28% do plástico é reciclado.

O estudo do WWF cita ainda que uma de suas principais referências é o estudo “What a Waste 2.0”, do Banco Mundial, segundo o qual 1,4% de todo o resíduo gerado – o que inclui o lixo orgânico e o reciclável (tanto plástico quanto de outros materiais) – passa pelo tratamento de reciclagem. Não há informações específicas sobre reciclagem de material plástico.

É preciso ponderar que esse percentual é puxado para baixo pelo fato de 51,4% de todo o resíduo gerado ser orgânico e ter como destino o aterro ou a compostagem, não passando pelo processo industrial de reciclagem. Assim, utilizar essa base de dados gerais para fazer inferências em relação à reciclagem do material plástico não é apenas uma simplificação, mas um grave erro conceitual.

Contato para mais informações:
GBR Comunicação
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Guilherme Brendler – [email protected] / (11) 3047-2426

 

Fonte: SITE ABIPLAST